Autenticidade: a chave do sucesso nas redes sociais
Com o isolamento social obrigatório por causa da pandemia de covid-19, o trabalho a partir de casa tornou-se rotina para muito portugueses, incluindo os influenciadores e os criadores de conteúdos digitais. A criatividade e a autenticidade, usadas pela comunidade digital, marcaram a nova realidade que trouxe diversos desafios.
Num cenário mais limitado e com especificidades, as pessoas dedicaram mais tempo às redes sociais como plataformas de informação, entretenimento e curiosidade. Além disso, há quem tenha olhado para esta nova vivência como a oportunidade perfeita para se focar, desenvolver e crescer enquanto influenciador digital, particularmente os micro-influenciadores.
Limitados ao contexto de casa, os influenciadores tiveram que recriar as suas matérias de forma a tornarem-se relevantes, úteis e oferecerem algo ao seu público. Aulas de ginástica, vídeos educativos e posts personalizados sobre bem-estar, saúde, maquilhagem, desenvolvimento pessoal, entre outros, foram e são as grandes apostas.
Os micro-influenciadores, por norma, costumam gerar mais engagement, porque trabalham com nichos específicos e estabelecem uma ligação mais 'íntima' com os seus seguidores. Este método permite estabelecer um pacto leal entre o influenciador e o usuário.
Ana Jorge, professora e investigadora da Universidade Católica na área da comunicação, refere que a “produção de conteúdo por influenciadores é cada vez maior e mais cuidada, profissionalizada, porque as exigências são maiores”. A adoção de novas técnicas também é referida pela investigadora, nomeadamente o amadorismo calibrado.
Apesar de as redes sociais serem palco de oferta de informações, imagens, vídeos, opiniões, as pessoas só partilham o que querem partilhar. “As fronteiras da privacidade e da intimidade vão sendo ajustadas entre o produtor, youtuber, blogger, influenciador e o seu público. Por vezes, é o produtor que vai mostrando um pouco mais para ver se isso é bem aceite ou não pela audiência. Por vezes, é a audiência que vai pedindo um pouco mais e o influenciador acede ou então resiste e estabelece que essa fronteira não é para ultrapassar”, justifica.
Ana Jorge defende que “todos nós nos relacionamos com os meios de comunicação e, portanto, deveríamos ser capacitados, e ter mais ferramentas para lidar com esse mundo”. Destaca também que os macro-influenciadores têm uma maior tendência para serem agredidos online comparativamente com os micro-influenciadores. Remata que o objetivo é “manter uma cultura positiva e respeitadora”.
Será que as pessoas assumem uma nova identidade nas redes sociais?
Para Erving Goffman o indivíduo representa o tempo todo. Ou seja, a interação na sociedade é incorporada através de uma personagem face ao outro, onde o ser humano se adapta. Isto permite que a comunicação seja bem sucedida.
Ana Jorge concorda com esta visão. “Se alguém tem uma exposição maior através das redes sociais e se vai adaptando a elas, não posso pensar que é apenas uma personalidade falsa, mas sim que essa pessoa se está a ajustar à interação com o público, demonstrando a sua identidade”, acrescenta.
A indústria dos meios de comunicação está, cada vez mais, fragmentada e vulnerável, criando oportunidades e riscos. Por exemplo, os estudantes da área da comunicação, hoje em dia, quando terminam os seus cursos, têm dificuldade em encontrar empregos nas suas respetivas áreas ou receber uma remuneração justa.
Marta Santos: “É importante refletirmos a nossa personalidade em tudo o que publicamos”
Marta Santos tem 20 anos e encontra-se no segundo ano da licenciatura de Jornalismo e Comunicação, na Faculdade de Letras, em Coimbra.
É nos setores da beleza, moda, viagens e desenvolvimento pessoal que Marta Santos se foca no que toca aos conteúdos que produz para as redes sociais. Inspirada por Chiara Ferragni, Augusto Curry e Sephora Nogueira, afirma que o confinamento obrigatório lhe trouxe muita motivação, porque passou a ter “mais tempo para gravar e editar vídeos e fotografias”, refere.
A jovem aveirense destaca que a maior dificuldade nas redes sociais é “superar as expectativas das pessoas”. Porém, acredita que estabelecer uma ligação com os seguidores pode derrubar esse obstáculo. “Uma técnica que aprendi com vários influenciadores é responder às mensagens com vídeo, porque permite criar empatia e uma ligação única”, revela.
Defensora da credibilidade, autenticidade e sinceridade, a micro-influenciadora admite que não estabelece nenhuma parceria sem antes testar o produto.
Apesar de haver cada vez mais pessoas a dedicar e a investir nas redes sociais, Marta Santos é da opinião que há lugar para todos, porque “cada pessoa é única e tem uma visão diferente mesmo quando se está a falar do mesmo assunto”.
Cátia Vilas Boas: “Nós somos a nossa própria marca”
Cátia Vilas Boas tem 25 anos. É licenciada em Biologia Aplicada e mestre em Controlo de Qualidade.
Com enfoque na área de skin care, os conteúdos que Cátia Vilas Novas produz, atraem cerca de 6 mil seguidores no Instragram. A influenciadora admite que o confinamento permitiu refletir e mudar a sua estratégia. Apesar de não ter formação especializada em maquilhagem nem em dermatologia, tem formação académica que “permite ter um espírito mais crítico em relação a produtos desse género”, destaca.
Refere que o grande problema dos influenciadores, no que toca à área da cosmética, é o facto de divulgarem produtos como sendo ótimos com apenas uma aplicação. “O que acontece, na maioria das vezes, é que as pessoas utilizam apenas uma vez o produto e depois partilham-no como sendo eficaz, sem ter em conta os ingredientes que o produto possui, se é bom para todos os tipos de pele e quais poderão ser as consequências devido ao uso incorreto do mesmo”, salienta.
Pelo facto de lidar com a área de skin care, Cátia Vilas Boas afirma que estabelecer uma ligação com os seguidores é fundamental. “Vender a nossa fotografia é incompleto. Temos que nos mostrar como um produto completo. Responder, mostrar interesse por eles, pelas suas necessidades, é o que nos separa de um simples outdoor”, afirma.
Além de destacar a importância de existir um nicho específico, revela que o que distingue uns dos outros não é o que falam, mas sim como, no sentido que a essência de cada pessoa é incopiável. “O maior desafio, durante o período de quarentena, foi serem criativas e mostrarem o seu valor” enquanto pessoas.
Sephora Nogueira: “Acredito que uma das minhas maiores potencialidades nas redes sociais é o meu forte poder de comunicação e a minha autenticidade”
Sephora Nogueira tem 27 anos e mora, atualmente, no Porto. Licenciou-se em Arquitetura e exerceu design gráfico. Desde muito nova que desenvolveu projetos de empreendorismo nas mais diferentes áreas.
A empreendedora e influenciadora digital revela que o esgotamento psicológico que a afetou há uns anos atrás, devido à junção de vários fatores - doença que possui (Crohn), problemas pessoais e exposição excessiva nas redes sociais - permitiu renascer das cinzas. Até agora, todos os projetos que tem desenvolvido estão interligados com a sua vida pessoal.
Atualmente, Sephora Nogueria conta com 11 mil seguidores na sua conta de Instagram. A empreendedora digital no marketing multinível, trabalha com a Herbalife Nutricion e aposta no empoderamento feminino. “Tudo o que eu consegui transformar e ver resolvido na minha vida, utilizo para ajudar outras mulheres”, destacando o curso online de amor próprio “Bem Me Quero” que criou, em 2020.
Tem como referências inspiradoras, pessoas que se reinventaram depois de grandes processos de dor, particularmente, Cristina Ferreira, Michelle Obama e Oprah. A nível de desenvolvimento pessoal refere Tony Robbins, Augusto Cury, Brendon Burchard e James Clear.
O isolamento social permitiu mudar a sua visão sobre as redes sociais. O facto de ter restruturado o seu feed do Instragram e melhorado a consistência das publicações e lives, permitiu que cerca de 600 pessoas novas visitassem o seu perfil, durante o mês de março.
“É muito interessante vermos que muitas vezes as redes sociais são o sítio perfeito para nós sermos o que não somos”, destaca, acrescentando que, hoje em dia, as pessoas têm pouca autoestima e que procuram nas redes sociais um escape. “Acredito que a melhor forma de as pessoas terem sucesso nas redes sociais é serem autênticas e não criarem uma persona”.
O diálogo direto e transparente com o público é importante para Sephora Nogueira, pois permite criar espaços para mapear oportunidades de crescimento e de desenvolvimento pessoal.
Desta forma, há um encanto pela área digital como forma de trabalho. Pressão e incerteza marcam este mundo, contudo, o retorno pode ser interessante e compensador.