Olhar sob a linha da frente

Grande Reportagem

Na linha da frente, e na impossibilidade de recorrer ao teletrabalho surge a figura do fotojornalista. Hugo Delgado e Filipe Amorim são apenas dois dos inúmeros protagonistas que, em tempo de pandemia, continuam a agarrar na câmara e com as devidas precauções vão para a rua, em mais um dia de trabalho.

As redes sociais mostraram a convergência de registos de uma vida de quase completa clausura. Com o objetivo de continuar a retratar a realidade fora de quatro paredes, surgiu a ideia de criar uma página que estampasse os trabalhos de fotojornalistas e fotógrafos profissionais – Everyday Covid é uma iniciativa que nos mostra o dia-a-dia do atual Portugal.

Filipe Amorim refere que a a página de instagram adquire uma grande importância por várias razões, mas que uma das mais importantes passa por "mostrar a vitalidade e a importância do fotojornalismo não só em Portugal mas no mundo.”

Fotografias gentilmente cedidas por Filipe Amorim

Fotografias gentilmente cedidas por Filipe Amorim

"O momento que mais me marcou foi quando vi médicos e enfermeiros muito emocionados na homenagem aos profissionais de saúde feita pelas forças de segurança, por ver os heróis que têm estado a lutar nesta guerra também tão vulneráveis"

Hugo Delgado optou por fazer uma abordagem “não dramática” da situação. Desta forma, resolveu fazer um apanhado de imagens que marcasse historicamente este momento, tentando salientar o edificado da cidade com a falta de pessoas.

Fotografias gentilmente cedidas por Hugo Delgado

Fotografias gentilmente cedidas por Hugo Delgado

“Penso que o retratar a cidade vazia cria um grande “vazio” que se torna por vezes um pouco violento e que nos faz pensar e a por tudo em causa”.

Qual a realidade vivida pelos fotojornalistas portugueses?

Apesar de grande parte da população se ter visto confinada às suas casas, nós continuámos a sair diariamente de casa para retratar o que ia acontecendo.

Muitos dos acontecimentos das últimas semanas puderam chegar às pessoas apenas através das nossas fotografias e essa tem sido a nossa grande missão. Por isso, atrevo-me a pensar que talvez por ser muitas vezes a única forma de tomar conhecimento de determinados assuntos, o nosso trabalho esteja a ser mais reconhecido hoje em dia. Há mais fotografias marcantes, mas também há talvez mais tempo para as ver e pensar. 

Filipe Amorim


Qual será o futuro do jornalismo após este período mais conturbado, pós Covid-19?

Haverá sempre este mercado. Se será em papel ou digital, isso só o futuro poderá ditar. Claro que uma pandemia destas pode empurrar, de certa maneira, a digitalizar processos impressos mas há sempre leitores.

O que a mim me custa é ver algumas grandes empresas detentoras de grandes jornais, e até televisões a apresentarem milhões de euros em lucro e nesse mesmo ano serem capazes de dispensar dezenas e dezenas de trabalhadores.

Hugo Delgado


Num período em que as medidas de prevenção e confinamento são regra, muitos fotógrafos profissionais, ligados à imprensa diária e não só, continuam a colocar os seus olhares e objetivas no que os rodeia, num mundo cada vez mais isolado e vazio, por fora.

João Porfírio tem 24 anos e é editor de fotografia e fotojornalista do Observador. Já realizou reportagens em diversos países como Iraque, França, Croácia, Turquia, Grécia, Hungria, Eslovénia e Marrocos. Agora, no seu próprio país, vive um cenário nunca antes visto.

João Porfírio ainda refere que, durante a pandemia, as pessoas tomaram consciência do papel e da função fotojornalista.

Fotografias gentilmente cedidas por João Porfírio

Fotografias gentilmente cedidas por João Porfírio

As pessoas fechadas em casa vêem o mundo através dos nossos olhos

- João Porfírio

Uma das faixas etárias que mais sentiu o isolamento social e a privação de não estarem com os seus familiares foram os idosos. Alienados do mundo e do vírus, não faziam ideia daquilo que se passava para lá da porta de entrada.

Fonte: Observador

A crise, que já dava sinais antes do cenário de pandemia, tornou-se ainda mais evidente com a Covid-19.

Fonte: Público

O 25 de abril - a bonita história de um país que há 46 anos conheceu o valor da sua liberdade de pensar, questionar, de criar e de ser e que foi "celebrado" em pleno Estado de Emergência. Com medidas de circulação apertadas, uma das datas que confere uma maior distinção e singularidade ao nosso país foi vivida nas janelas. Um momento único captado nas varandas de muitos e muitos portugueses.

Fotografias gentilmente cedidas por João Porfírio

Fotografias gentilmente cedidas por João Porfírio

Os funerais sem despedida, sem abraços e reduzidos a 10 pessoas foram talvez a consequência mais cruel ditada pelo novo coronavírus.

Fotografias gentilmente cedidas por João Porfírio

Fotografias gentilmente cedidas por João Porfírio

Em dois meses:

Marcelo substituiu as selfies pela máscara. Os abraços e os apertos por um simples toque com o cotovelo.

As audiências de vários programas de televisão dispararam e os intervalos tornaram-se mais curtos.

O termo lay-off passou a ser um termo recorrente nos noticiários e nas várias conversas entre funcionários de empresas.

O álcool gel aumentou exponencialmente de preço e vários hipermercados chegaram a vender máscaras a preços exagerados e incompatíveis com o cenário de crise.

As ajudas alimentares para algumas famílias com poucos rendimentos tornaram-se uma realidade cada vez mais presente.

O fotojornalista continuou na rua:

A "abraçar a tarefa de contar a pandemia ao futuro" e a levar até todos os leitores um retrato exímio de um país que, pela força do vírus, se viu obrigado a parar e a ficar em casa.