Anos 80
A liberdade do Rock Português
O rock português ganhou vida nos anos 80. Num período pós- revolucionário, o povo português descobriu no rock a liberdade de expressão que lhe tinha sido negada.
Antes do 25 de abril, um regime ditatorial e de censura vigorava em Portugal e a ânsia pela liberdade era crescente. Com a revolução dos cravos e a instauração de um regime democrático verifica-se uma maior liberdade de expressão assim como um maior debate de ideias.
A Revolução de 25 de Abril foi um evento histórico resultante do movimento político e social que veio depor o regime ditatorial do Estado Novo. Fonte: Wikipédia| Autor: Henrique Matos.
A liberdade, o dinheiro e estabilidade levam ao surgimento de uma nova ordem: o consumo. A classe média passa a reproduzir os padrões das sociedades europeias mais avançadas: surgiram os centros comerciais e hipermercados, generalizou-se o acesso a equipamentos domésticos, como os televisores e os micro-ondas, e democratizaram-se as opções de lazer e cultura.
Com a chegada da década de 80, a cultura juvenil procurava uma rutura com o passado. Amplia-se, por isso, a busca de novas modas, estilos, sensações e experiências. Os modelos alternativos passam a responder mais aos gostos dos jovens do que os programas estandardizados dos meios de comunicação dominantes.
No universo radiofónico passam-se a ouvir todas as músicas que ao longo da ditadura tinha sido proibidas numa sede de expressão e de combater a censura. A música passa por uma redefinição identitária. Fonte: BLITZ
O final dos anos 70 e o início dos anos 80 marcaram uma verdadeira revolução no universo musical português. Várias formas e géneros culturais, como a canção de intervenção, foram perdendo o protagonismo e a notoriedade. Assiste-se a uma expansão do rock português motivado pela clara apologia à fuga de regras. Fonte: BLITZ
O "rock português" foi o fenómeno cultural "emergente" no início dos anos 80 que satisfazia o desejo de autonomia cultural e auto-estima nacional tendo em si articulado as esperanças e anseios da juventude, a denúncia social e a rejeição do sistema vigente. Fonte: Site oficial dos Xutos
Principais nomes do rock
Rui Veloso
Rui Veloso construiu as bases do Rock português com o lançamento do seu álbum de estreia "Ar de Rock", em 1980. O disco foi bem recebido pelos críticos e tornou-se um marco comercial e musical. Dá -se destaque para o 'Chico Fininho', música que conquistou um país e provou que era possível fazer rock em português.
De repente, o rock'n'roll passava a falar de figuras às quais os portugueses eram familiares: como "chico fininhos" a subir as ruas ou "rapariguinhas do shopping" nos grandes espaços comerciais.
As músicas de Rui Veloso eram marcadas pela liberdade de expressão que lhe permitia tecer diversas críticas à sociedade. "Máquina zero"é um exemplo disso. Esta música fazia parte do terceiro álbum, "Guardador de margens", e abordava a obrigatoriedade do serviço militar.
A acompanhar Rui Veloso aparece uma imensidão de bandas que agitaram o panorama nacional e captaram a atenção quer dos media, quer do público em geral.
UHF
A banda de rock portuguesa surgiu em 1978 e foi a força motriz por trás da explosão do rock em 1980. No início dessa década, os UHF já tinham lançado o seu primeiro single, "Jorge Morreu", que vêm quebrar com o status quo do uso dominante da língua inglesa nas canções de rock.
Após o sucesso de Rui Veloso, uma segunda música, "Cavalos de corrida" foi lançada, seguida por três álbuns de grande sucesso em Portugal.
Xutos e Pontapés
No final de 1978, Zé Pedro, Tim e Zé Leonel formaram os Xutos & Pontapés, e no ano seguinte já estavam a pisar os palcos. Lançam o seu álbum de estreia "1978-1982", que acompanha o seu single "Sémen". Este foi proibido de passar na Rádio Renascença quando saiu.
Em 1985 lançam o seu segundo álbum, "Cerco", e dois anos depois explodem no cenário musical com o álbum "Circo de Feras" e músicas como "Contentores" e "Não Sou o único".
Xutos e Pontapés são, provavelmente, uma das bandas portuguesas mais conhecidas e reconhecidas.
GNR
O Grupo Novo Rock surgiu em 1979, numa conversa entre Vítor Rua e Alexandre Soares. Descobriram que compartilhavam do desejo de criar uma banda, e decidiram que aquele era o momento ideal para tornarem esse sonho realidade. Apesar de Rui Reininho ser muitas vezes considerado o rosto dos GNR, ele só se tornou o vocalista da banda cerca de dois anos após a sua criação, em 1981.
Um dos seus primeiros singles é "Portugal na CEE", uma música que foi considerada um dos expoentes do rock na altura. A letra antecipava em cinco anos a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia.
Rock Rendez Vous
O Rock Rendez Vous abriu a 18 de dezembro de 1980, com um concerto do "Pai do Rock Português", Rui Veloso. O clube de Rock, que tinha sido num primeiro momento um cinema antigo, era a única sala de espetáculos de Lisboa focada na música moderna feita em Portugal que produzia concertos e promovia a gravação de discos.
Em 1984, o Rock Rendez Vous era já o espaço protagonista para a exposição pública de nova música em Lisboa. A criação do Concurso de Música Moderna levou ao aparecimento de uma nova geração de bandas.
O 1º Concurso aconteceu numa altura em que os grupos portugueses não conseguiam grande aceitação no mercado discográfico. A única exigência para participarem era que os grupos não tivessem qualquer gravação comercial, pretendendo-se assim revelar novas bandas.
A existência de um espaço próprio para tocar música ao vivo permitiu e reforçou a descoberta de que era possível fazer rock em português e tornou essa música um fenómeno popular. Este espaço permitiu também que um número enorme de bandas e projetos tivessem a sua oportunidade no mundo da música.
Rock Rendez Vous rapidamente se tornou o símbolo de uma revolução cultural na música portuguesa marcando definitivamente gerações de músicos, compositores, críticos, radialistas e público em geral.
O mundo da música ficou marcado pelas diferentes abordagens e pelo culto à diversidade. O rock veio dar voz aos próprios artistas, às suas aspirações e preocupações.