Arte nua e crua
O mundo artístico molda-se ao longo do tempo e, hoje em dia, a arte não convencional ganha território em Portugal.

A arte como forma de expressão
A arte não é nada mais, nada menos do que a atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa, que pode ser transmitida através de várias linguagens, tais como: arquitetura, desenho, escultura, pintura, escrita, música, dança, teatro e cinema.
Desde os tempos pré-históricos, que o Homem sente a necessidade de representar o mundo e o que nele existe, de acordo com suas perspetivas. E essa arte evolui de forma constante e contínua.
Após um inquérito feito a uma amostra da população da zona Centro, nomeadamente, Leiria e Coimbra, cheguei à conclusão de que a maioria das pessoas inquiridas tem uma grande ligação à arte. De facto, para elas, a arte, no geral, é uma composição de “algo” que reproduz uma resposta sensorial ao espectador, ou seja, que desperta, em quem a contempla, algum tipo de pensamento ou reação. É, também, um mecanismo de libertação e expressão de sentimentos, desejos e pensamentos por parte do artista.
Deste modo, o ser humano precisa de arte na sua vida, pois ajuda-o não só a descobrir os outros, mas, também, a fazer uma análise intrínseca dele próprio. Ensina lições e expõe vivências, sejam elas de realidades próximas ou distantes, o que faz da sua existência uma necessidade.




Arte renascentista
Arte renascentista


Questionei, ainda, sobre as vantagens que o Homem pode adquirir ao contemplar arte, pelo que, para as pessoas inquiridas, a arte é uma mais-valia, pois torna o ser humano mais culto, abre-lhe horizontes e estimula a criatividade. Essa aptidão permite, ainda, compartilhar diversas visões da realidade, o que acaba por enriquecer o intelecto. Assim, trata-se de uma habilidade que é necessária ao artista que a utiliza como forma de expressão, refúgio ou simplesmente por gosto, mas também é necessária a quem usufrui dela, tendo em conta que se trata de “algo” que as pessoas consomem por gosto. Além disso, obras de arte são vestígios do tempo, da cultura e da sociedade, tornando-as relíquias históricas.
Segundo um dos questionados, a arte educa o ser humano. Desde o início dos tempos que a arte passa mensagens e serve de expositor da vida humana, sem ela seríamos inacabados. A arte é uma parte das pessoas, quer se tenha jeito para ela ou não.
Existem dois tipos de arte: a arte convencional - aquela que é feita de forma tradicional, isto é, mantém as mesmas técnicas que foram usadas desde o princípio da arte, sem fazer uso de materiais ou técnicas modernas - e a arte não convencional - um conjunto de manifestações que se caracterizam pela ideia que predomina na obra, ou seja, os artistas rejeitam tudo o que é tradicional (cânones clássicos de arte), sendo que utilizam materiais e procedimentos diferentes do tradicional e esperam a participação ativa do público.










Arte Erótica
O erotismo como força de expressão

Um tipo de arte que tem sido cada vez mais reconhecido nos dias de hoje é a arte erótica. Segundo Afonso Medeiros, professor na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará, no Brasil, a arte erótica é um conjunto de “representações do corpo e dos desejos expressos na história da arte”. “Erotismo vem de eros, mito do amor, e, portanto, refere-se à sensualidade do corpo, que também se entende por romantismo”, define o professor.
Este estilo artístico, segundo as pessoas inquiridas, ainda é visto como um assunto tabu por algumas gerações, maioritariamente devido ao facto de serem mais conservadoras. Contudo, foram questionados acerca da finalidade que a arte erótica pode ter e de que forma é que pode ser utilizada como forma de expressão.
Segundo a população leiriense e conimbricense, este estilo pode ser utilizado como “um libertador de mentes”, pois pode mudar pontos de vista no que toca a temas como o feminismo, a escravidão, entre outros. É um tipo de arte que recorre à autenticidade dos corpos do ser humano como meio de transmitir pensamentos e ideias, bem como críticas aos estereótipos impostos pela sociedade. Acaba, assim, por ser "uma forma de libertação pura e crua” do tabu ainda existente na sociedade.
Deste modo, fui à descoberta de locais, em Coimbra, que divulgassem esta vertente artística e encontrei a livraria “Dr Kartoon”, onde, fora do edifício, se encontra uma placa a dizer “Galeria d’Arte” acompanhada de um logótipo, digamos, interessante.
Após entrar na livraria, pequena, mas repleta de livros de banda desenhada, reparei num pequeno papel a informar de que no segundo piso se podia visitar um museu onde existia tudo, menos arte comum.
Assim, entrei no Museu de Arte Erótica (MAE Coimbra), onde encontrei diversos objetos, quadros, esculturas e obras de arte, expostos nas paredes, em vitrines e em aparadores. Para ajudar na criação de um ambiente mais sensual e romântico, o repertório musical foi meticulosamente escolhido, tendo composições do artista Pierre Bachelet, como “Emmanuelle”, e também do músico Gainsbourg juntamente com Jane Birkin: “Je t’aime moi non plus”.












Dentro do pequeno museu, existia uma coleção de arte erótica, disponível e visível para todos os portugueses, que tem origem em Coimbra. A exposição, que “passou de temporária a definitiva, graças à boa vontade da direção da livraria”, admitiu Jorge Fernandes, curador e co-proprietário do Museu de Arte Erótica de Coimbra, é única em Coimbra.
Em conversa com Jorge Fernandes, descobri que “a ideia [de haver um museu ligado ao erotismo] surgiu há uns anos” e que “a galeria ganhou forma, aos poucos, no andar superior à livraria Dr. Kartoon”, que por si só também é única, devido a ser um espaço dedicado exclusivamente à arte da banda desenhada na cidade.
Segundo o curador, no museu estão presentes mais de mil volumes sobre a temática erótica e, também, um grande número de peças artísticas. Contudo, devido às limitações do espaço, “rodam-se as peças e vai-se gerindo o Museu na medida do possível”, pelo que a maior parte da coleção permanece em armazém. Este sistema de rotatividade implica sempre um cuidado curatorial na seleção e na apresentação dessas peças.
No que toca às peças presentes na coleção, algumas delas foram doadas, mas a maior parte foi comprada em feiras, mercados e antiquários espalhados por Portugal e no estrangeiro. A exposição conta, então, com objetos do nosso quotidiano (por exemplo, um abajur), tapeçarias associadas aos estereótipos sociais e culturais da sociedade e, ainda, peças clássicas de vários cantos do mundo, como quadros e esculturas. Jorge Fernandes enfatizou uma das peças como sendo a sua favorita, uma obra da autoria de João Dixo, professor catedrático e artista plástico português.
Segundo o curador, a cidade conimbricense é “um universo limitado” devido à ainda existente mentalidade preconceituosa dos portugueses, o que acaba por apenas chamar a atenção de estrangeiros.
Jorge Fernandes pronunciou-se sobre o futuro do Museu de Arte Erótica de Coimbra e afirmou que pretende criar um catálogo e estabelecer ligações com outros colecionadores, exposições e museus para assim fazer crescer o seu sonho de abrir os olhos às pessoas de modo a que deixem de lado o tabu que existe em relação a esta temática.
Arte não convencional em Portugal
A evolução da visão artística portuguesa

Na realidade, em Portugal não há muitos museus relacionados com esta vertente artística, pelo que só existem em cidades como Coimbra (Museu de Arte Erótica de Coimbra - MAEC), Lisboa (Museu Erótico de Lisboa - MEL) e Porto (Museu de Arte Contemporânea de Serralves, que opta por ter algumas exposições relacionadas com o erotismo).
Apesar da influência que o erotismo e o nu tiveram como inspiração de vários artistas de diferentes épocas, continua a ser um tema tabu aos olhos da população. Por esse motivo, acaba por ser um estilo de arte que passa despercebido na sociedade. Apesar de terem sido superados vários tabus ligados ao tema, a imaginação sexual permanece um território pouco explorado, e que continua a não ser aceite pela maioria da sociedade envelhecida de Portugal. Mesmo com o facto das gerações mais jovens possuírem mais liberdade sexual, ainda existem várias situações de repúdio contra este tema.
Assim, a aceitação do erotismo como um tema não mencionável acaba por afastá-lo não só do pensamento, mas também da arte. Segundo os inquiridos, é necessário haver a divulgação desta temática de forma a que a sociedade possa evoluir pensamento e ter outras perspetivas no que toca à vertente sexual.