CORTINA DE CHAPA
JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA - A CABRA
Janeiro terminou com surpresa no seio da academia: foi colocada uma divisória na antiga cantina dos grelhados, que tem vindo a ser utilizada pela Associação Académica de Coimbra (AAC). A placa de metal (que podia ser “de ferro”) divide o espaço em dois e foi instalada pela reitoria da Universidade de Coimbra (UC). O propósito da colocação foi “delimitar duas zonas distintas daquele espaço, para permitir o seu melhor uso”, de acordo com o vice-reitor da área do Património, Edificado e Infraestruturas, Alfredo Dias. Sublinha ainda o facto desta ser “amovível” e de poder ser “mudada de local a qualquer momento”. De acordo com o administrador da Direção-Geral da AAC (DG/AAC), Diogo Tomázio, não havia “nenhum projeto aprovado para a colocação da chapa”, pelo que a DG/AAC só tomou conhecimento da sua colocação no momento em que a viu. A primeira metade do espaço vai ficar sob gestão do Teatro Académico Gil Vicente (TAGV).
Surgem várias posições a propósito da colocação da divisória: enquanto uns a veem como uma possibilidade de aproveitamento do edifício, outros mostram-se reticentes devido à quantidade de espaços perdidos ao longo dos últimos anos pela AAC. De facto, desde a sua construção, a antiga cantina dos grelhados tem servido os interesses da comunidade académica, tendo sido palco de eventos recreativos e culturais, debates, sala de estudo, de reuniões e até mesmo de diversas Assembleias Magnas. O espaço que servia originalmente, aquando da construção do edifício sede da AAC e dos Jardins da AAC, como ginásio da Académica foi, entretanto, transformado em cantina social. Nos últimos anos, tem servido como espaço multiusos pela AAC.
Estados (des)Unidos dos Grelhados
De acordo com Alfredo Dias, a intervenção no espaço dos grelhados passa pelo “subaproveitamento” do edifício atual, que se encontra “numa zona nobre, com um potencial enorme”. A questão prende-se em “encontrar as formas de conseguir reverter a degradação e melhorar todos aqueles espaços”, desde as antigas cantinas até ao edifício sede, revela o vice-reitor. No fundo, a intenção da reitoria passa por perceber como o espaço pode ser utilizado de modo mais eficiente.
O diretor do TAGV, Fernando Oliveira, partilha da conceção reitoral, e interpreta a decisão como sendo uma forma de “responder à diversidade de eventos de escalas distintas que exigem espaços alternativos”. A seu ver, o TAGV carece de espaços, assim como a AAC, e dá o exemplo da “falta de capacidade de resposta” para eventos de pequena dimensão, desproporcionais face à capacidade do Teatro, que conta com 768 lugares. Apresenta também como argumento a recente aprovação de um plano de atividades no contexto da Rede Portuguesa de Teatros e Cineteatros, que exige mais capacidade “para responder a esse compromisso”.
Na sua perspetiva, esta “experiência piloto”, como é denominado por Fernando Oliveira, vai servir para testar a organização dos recursos técnicos com o espaço dividido e verificar a sua viabilidade. Face à atribuição do lado esquerdo à estrutura por si dirigida, Fernando Oliveira não considera que tenha sido feita com base na condição da sala, mas por razões de “proximidade da equipa técnica e do centro de documentação”. Não descura o facto de considerar que há “muito trabalho ainda a fazer para se assegurar a dignidade dos próprios espaços”, pelo que não coloca a questão, suposta pela opinião pública, da atribuição propositada dessa parte ao TAGV, aparentemente menos degradada.
“É uma experiência que está a ser feita no contexto dos usos dos espaços da Universidade para responder à sua agenda cultural e não estritamente à do TAGV.”
- Fernando Oliveira
O entendimento de estudantes como Pedro Andrade, antigo presidente da Secção de Fado da AAC (SF/AAC) e atual presidente da mesa de plenário, não é assim tão conciliador. Na sua perspetiva, a colocação da divisória significa a “retirada de um espaço sem nada em troca, ficando nós [estudantes] com uma parte inutilizada”. O seccionista mostra-se preocupado com a tendência crescente dos últimos três anos referente à retirada de infraestruturas por parte da reitoria. Dá como exemplo as antigas cantinas verdes, afastadas da alçada da AAC para a criação de laboratórios da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC, a antiga sala do Centro de Informática da AAC (CIAAC), localizada perto do Departamento de Arquitetura, e, agora, a seu ver, a antiga cantina dos grelhados.
“Os espaços, entre outras coisas, são-nos retirados porque nós [estudantes] estamos quietos e compactuamos com tudo isso. É por muita apatia nossa.”
- Pedro Andrade
Antiga sala do CIAAC
A antiga sala do CIAAC localiza-se no edificado das antigas cantinas verdes, que de momento se encontra em obras. O processo de reabilitação do espaço esteve estagnado durante a pandemia, desde que as salas foram retiradas à AAC. O espaço será remodelado, a fim de seguir o plano de construção de laboratórios para a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUC).
Antigas cantinas verdes
Serviam como espaço de ensaio e de reunião de diferentes secções e, inclusive, da Comissão Organizadora da Queima das Fitas. Uma das salas do edifício foi cedida à Secção de Fado, que a remodelou por iniciativa própria. Entretanto, o local saiu da alçada dos SASUC e foi atribuído à FPCEUC, com o objetivo de serem transformadas em laboratórios. Em 2020, as estruturas da AAC que lá estavam instaladas foram forçadas a sair a propósito das obras que estão agora a decorrer, 3 anos depois.
Antigas cantinas dos grelhados
Inicialmente começou por ser o ginásio da Académica aquando da construção do complexo da AAC. Foi, entretanto, cedido, a fim de se tornar uma cantina, a cantina dos grelhados. Nos últimos tempos, tem servido como espaço multiusos sob a alçada da AAC.
Por sua vez, a DG/AAC, nas pessoas de João Caseiro, presidente, e Diogo Tomázio, administrador, encaram a situação com “descontentamento”. Ainda assim, pretende adotar a postura de “ponte negocial” entre os interessados, dado considerar não ser da sua competência “agir sozinha num espaço que até diz mais às secções e a todos os grupos ligados à cultura académica e universitária”, esclarece o administrador. Na perspetiva de Diogo Tomázio, há duas posições que se podem adotar: uma mais reivindicativa ou uma mais “pragmática”, no sentido de “procura de soluções para a requalificação da cantina dos grelhados”. Com isto, clarifica a procura de elaboração de um projeto que vise a criação de mais zonas onde possa ser feita produção cultural, política e desportiva, de modo a “agradar tanto às secções, como à DG/AAC”.
“Seremos sempre a guia e o intermediário entre a reitoria e a AAC, mas nunca seríamos nós a tomar decisões vinculativas.”
- João Caseiro
João Caseiro revela não ter tido conhecimento da existência de nenhum tipo de projeto oficial, pelo que foi “apanhado de surpresa” com a situação. Ainda assim, clarifica que, se a decisão de dividir o espaço se mantiver, a DG/AAC vai-se focar em “rentabilizar a sua utilização e fazer contrapropostas, talvez em alternância”, no sentido de retirar “o melhor proveito para a comunidade estudantil". O dirigente acredita que “o espaço ainda é grande e se tiver renovações estruturais poderá ser muito melhor aproveitado do que está a ser neste momento”.
Acima de tudo, vincula a DG/AAC a uma posição de “mediação”, responsável por servir “apenas como intermediários no processo”, e de garantia para que os edifícios como os grelhados e outros da AAC “tenham a sua melhor utilização e capacitação para o decorrer normal das atividades”. O presidente da DG/AAC não fecha a porta à possibilidade de divisão do espaço, desde que este seja alvo de uma “renovação estrutural” e a sua manutenção “seja assegurada pela Universidade”. Porém, assume “não tomar posições sozinho”, ainda que considere que possam ser “benéficas”, uma vez que “qualquer decisão vai ser validada pelas estruturas”.
“O que se pretende é que o espaço seja usado para todos. Este diálogo vai continuar a acontecer, oficial e formalmente, no Conselho Consultivo do TAGV, onde estão representadas a Universidade, o TAGV e também a AAC.”
- Fernando Oliveira
Ginásio da Académica, 1960
Antiga cantina dos grelhados, 2023
Edifício da antiga cantina dos grelhados e das cantinas azuis, em 1960
Edifício das antigas cantinas dos grelhados e das cantinas azuis, em 2023
Falha de Comunicação
Aquando da colocação da divisória, um aspeto que se destacou foi a surpresa suscitada, tanto na comunidade estudantil, como nos membros da DG/AAC. Neste caso, Diogo Tomázio e João Caseiro realçaram o facto de não estarem a contar com a instalação por não “existir sequer projeto aprovado”. No entanto, o presidente da DG/AAC admitiu já conhecer o projeto “de modo superficial”, dado ter sido referido “em contexto informal”. João Caseiro destaca ainda que “não havia nada em concreto que nos levasse a presumir que, no início do ano de 2023, fosse lá colocada esta barreira”.
Tendo em conta as declarações do vice-reitor Alfredo Dias, “foram colocadas hipóteses acerca de como potenciar e aumentar o uso da zona”, ainda que reconheça que tenha havido dificuldades de comunicação. Sustenta esta afirmação dado que “quando a divisória foi colocada, não existia do lado da AAC noção de que seria nesta altura”.
“Houve reuniões em que este tipo de soluções capazes de potenciar o uso da zona, ainda que não especificadas, foram colocadas em cima da mesa. Porém, admito que possa ter havido alguma dificuldade de comunicação.”
- Alfredo Dias
“Não vai ser um trabalho fácil, nem imediato, mas estou absolutamente convencido, depois da reunião de ontem, que vamos conseguir chegar a soluções ótimas e interessantes.”
- Alfredo Dias
No último dia de janeiro, a reitoria reuniu com os dirigentes das secções e da DG/AAC, que “ficaram a conhecer um pouco melhor qual a nossa perspetiva e quais são as condicionantes”, expõe Alfredo Dias. “Foi muito interessante para podermos pensar em mais soluções”, revela. Estes tópicos referidos vão voltar a ser discutidos e decididos na reunião entre os membros do Conselho Consultivo do TAGV, que vai ter lugar dia 9 de fevereiro, onde vai decorrer um diálogo entre a reitoria, o TAGV e a AAC. Quanto a esta, Fernando Oliveira revela considerar “importantíssima” a colaboração das três estruturas na área cultural. Já Diogo Tomázio declara que a DG/AAC vai continuar a “a fazer pressão, que é sempre sobrevalente neste aspeto, compreendendo os problemas e dialogando com a reitoria”.
Teatro ACADÉMICO de Gil Vicente
Uma das questões persistentes no seio de discussão da AAC é a relação da comunidade académica com o TAGV e o difícil acesso ao mesmo por dois motivos, em especial: os preços praticados e a disponibilidade do próprio espaço. Pedro Andrade, a propósito, salienta que “o TAGV pratica sempre preços altíssimos, não querem os estudantes lá, que foram deixando isso acontecer”. Contudo, Fernando Oliveira destacou que a missão de qualquer teatro universitário é “confrontar e trazer para o universo da Academia a criação artística contemporânea”, pelo que a ocupação do TAGV “é para os estudantes prioritariamente, em vários sentidos”. O diretor acrescenta ainda que “o teatro é, tem sido, e vai continuar a ser, o lugar que apoia as atividades da AAC, que resultam das várias secções”, premissa que tem sido posta em causa na ordem do dia da discussão estudantil.
“Não podemos pensar na ocupação do Teatro apenas num contexto específico, mas em todo este conjunto de atividades às quais deve responder, a fim de trazer a criação artística contemporânea para a Universidade.”
- Fernando Oliveira
O diretor do TAGV relembrou também que o Teatro Académico pratica os “preços mais baixos que existem”, com especial preço de estudante para as estruturas da casa, “até ao limite possível”. Termina a sua intervenção ao evidenciar o chamado “espaço curricular”, mediante o qual “qualquer turma da Universidade, em contexto curricular, que queira ir assistir a um evento, tem acesso gratuito ao mesmo”.
Uma das grandes frustrações do antigo presidente da SF/AAC relativas ao tema é, no entanto, a falta de prioridade que declara sentir quando existe já outro evento marcado para o dia: “se nós quisermos ou precisarmos de realizar algo no TAGV, mas já estiver programado algo, já não nos é cedido o espaço”. Por sua vez, Fernando Oliveira alega a intensa ocupação do espaço, que muitas vezes tem “uma procura superior ao número de dias em que está em funcionamento por ano”.
“O TAGV é um espaço da Academia (é o Teatro ACADÉMICO Gil Vicente), pelo que temos que o otimizar quando faz sentido.”
- Alfredo Dias
A Possível Colaboração
A colocação da divisória suscitou diversas dúvidas, entre as quais está a otimização do espaço, pelo que várias posições se insurgiram a propósito: a reitoria e o TAGV consideram que a melhor solução passa pela colaboração entre a comunidade académica e o teatro; o administrador da DG/AAC afasta-se de uma ideia de colaboração mútua, ainda que a encare como possivelmente benéfico, ressalvando o facto de que nada foi deliberado de modo oficial em discussão de Direção-Geral. De outra perspetiva, surge a posição de algumas estruturas da casa, que encaram a divisória e a possibilidade de partilha do espaço como mais um episódio de retirada de salas à Academia.
“A AAC cresceu, tem muito mais secções, portanto, o espaço que já na altura [década de 60] era criticado por não ser suficiente, cada vez é menos suficiente e ainda vemos os que temos a ser retirados.”
- Pedro Andrade
“Eu queria mesmo passar a mensagem que aquele espaço é para servir a comunidade universitária toda, e toda a atividade cultural.”
- Fernando Oliveira
“Não podem estar à espera que não haja reivindicação com base na ideia de que, daqui a dez anos, pode haver algo interessante naquele cubiculozinho que nos deram.”
- Pedro Andrade
De acordo com Fernando Oliveira, o TAGV também carece de espaços para realizar atividades, uma vez que uma sala com capacidade para cerca de 700 pessoas “nem sempre é ideal” para eventos ou atividades que necessitem de um espaço menor, como já referido acima. “Quando uma secção ou organismo autónomo nos pedem o espaço, nós não temos capacidade de resposta”, revela, pelo que perspetiva a colaboração nos grelhados como benéfica para todos. O vice-reitor destaca a importância de haver alternativas de salas no sentido de satisfazer as necessidades estudantis, nas quais estão compreendidas as das secções da AAC. “Haver opções de escolha é, certamente, bom para toda a gente, ou seja, no fim do dia é bom para a Academia”, conclui.
A comunidade estudantil une-se na ideia de que é essencial dialogar em primeiro lugar, a fim de averiguar qual vai ser a melhor solução para maximizar a potencialidade do espaço. No entanto, a perspetiva de João Caseiro é a de que é possível colaborar, mesmo com o espaço dividido, sendo necessário haver “alguma cedência das duas partes para que haja maior proveito da utilização de espaços”. Por outro lado, Diogo Tomázio não acredita “na ideia de colaboração”, mas na “eventualidade de cada um ter o seu espaço e poder usá-lo como quer”, ainda que não vincule a DG/AAC a esta opinião. Tanto o presidente, como o administrador, consideram que agora o plano deve passar por perceber de que forma pode ser melhor aproveitado o espaço concessionado, podendo passar tanto por salas de reuniões, como de ensaios das estruturas da casa, por exemplo.
Com outra perspetiva, surge a posição dos dirigentes das secções culturais, que aprovaram com unanimidade, em Assembleia de Secções Culturais, uma nota de descontentamento face à divisória. Acreditam que esta atitude reitoral não só vai causar constrangimentos na agenda prevista de atividades que iriam ocorrer na antiga cantina dos grelhados nos próximos tempos, como simboliza “mais uma perda de espaços para a AAC”, declara Pedro Andrade. “Num espaço de três anos foi retirada uma boa quantidade de metros quadrados à AAC, quando esta tem vindo, constantemente, a exigir mais e melhores espaços”, expõe. Ainda assim, deixa claro que compreende a situação do TAGV, que “sente que está a crescer e precisa de uma sala B”, pelo que não descura a possibilidade de “encontrar um espaço semelhante em área, mesmo que fora do complexo em volta dos Jardins da AAC, se o TAGV necessitar mesmo daquele”. O que o estudante não encara de bom grado é a possibilidade de a AAC perder o espaço de modo definitivo.
“Neste momento não está nada definido: aquilo é um espaço da Academia que continuará a ser um espaço da Academia. Isso é absolutamente certo.”
- Alfredo Dias
Caso a AAC perca a gestão da cantina dos grelhados na sua completude de modo definitivo, “é necessário exigir mais espaços noutro sítio qualquer”, garante Diogo Tomázio. Atualmente, a gestão que é feita do espaço dos grelhados é realizada pela DG/AAC e, inclusive, “existe um regulamento próprio que prevê a sua utilização, bem como o processo de reservas”, explica João Caseiro. No entanto, “não há nada mais do que isso neste momento”; como a reitoria é dona do espaço, “a AAC não pode sair prejudicada devido à utilização que tem sido feita”, que tem contribuído para a degradação o complexo, remata.
Só Mete Água: Requalificação dos Espaços da AAC
O edifício-sede da AAC tem sido um dos principais temas de contestação por parte dos estudantes pelo estado deteriorado em que se encontra, que compreende problemas de infiltrações, condições de isolamento, eletricidade, humidade e substituição da cobertura da estrutura edificada. A 19 de outubro de 2021, a equipa reitoral da UC apresentou o projeto de reabilitação e conservação do edifício, que se divide em diferentes fases. A primeira, que já está completa, baseou-se numa intervenção nas coberturas e juntas de dilatação. A questão atual prende-se com o insucesso das obras, que não resolveram os problemas aferidos.
“Não foi mais do que uma obra de fachada, não fizeram grande coisa. Foi tapar buracos com poeira.”
- Pedro Andrade
A UC, em colaboração com a DG/AAC, fez um “fortíssimo investimento” para a recuperação do edifício, que “em breve iniciará a 2ª fase”, explica o vice-reitor. No que diz respeito à contínua degradação do edifício, Alfredo Dias reconhece que “é claro e notório que houve alguns problemas por resolver, que, por terem sido solucionados de forma ineficaz, voltaram a manifestar-se”. Aquilo que a reitoria declara é que “os que não ficaram resolvidos, vão-no ser, independentemente de onde é que esteja a causa e de quem é que seja a responsabilidade”, assegura.
“Naturalmente, temos noção que as soluções encontradas podem ser insuficientes para responder às necessidades que existem.”
- Alfredo Dias
Alfredo Dias relembra que “neste campo não há soluções fáceis, nem rápidas, nem baratas”, mas o objetivo é a “recuperação do edifício classificado, que é um património valioso da AAC e da UC”. A requalificação foi o motivo apresentado pela reitoria para a retirada de edifícios e salas, como é exemplo a retirada das antigas cantinas verdes, onde estavam sediadas estruturas como a Comissão Organizadora da Queima das Fitas, ou da antiga sala do CIAAC, que deixaram de pertencer à AAC para passar a albergar outras estruturas associadas à UC.
“As requalificações existem, mas nunca são para nosso usufruto, tirando esta [intervenção no edifício sede], que foi mal feita.”
- Pedro Andrade
O presidente da DG/AAC considera, no entanto, que a AAC não tem tido os “apoios necessários para conseguir preservar os edifícios da melhor forma, assim como não tem sido possível limitar a contraexpansão que tem sido feita pela reitoria” (referindo-se ao “número considerável de metros quadrados perdidos pela AAC nos últimos três anos”, como diria Pedro Andrade). Não obstante, Diogo Tomázio reconhece a demora acrescida à cedência de licença e requalificação de espaços considerados património mundial da UNESCO.
O presidente de mesa do plenário da SF/AAC deu como exemplo a intervenção da SF/AAC nas antigas cantinas verdes, quando o espaço lhe foi concedido. Os associados andaram a “transformar paredes, alisar o chão, e 30 por uma linha para ter um espaço que desse para a necessidade que era uma sala de ensaios”, relata. Ficou claro que o mais importante para a DG/AAC é haver espaços que sejam aproveitados, ainda que em menor número que anteriormente: “de uma forma ou outra, desde que vise a melhoria das salas e edifícios, temos que colocar as hipóteses em cima da mesa”, declara João Caseiro. Já para Pedro Andrade, “cada espaço conta”, pelo que garante que, desde que o espaço exista, a melhoria de condições pode mesmo ser levada a cabo pela secção utilizadora.
No fundo, todos procuram perceber qual a melhor forma de conseguirem trabalhar em prol dos objetivos comuns e individuais, num panorama de diálogo e cedências mútuas equilibradas. Os estudantes deixam, no entanto, claro, que não vão tolerar a desvalorização de uma das suas principais causas e motes de atuação: a luta por mais e melhores espaços para a Associação Académica de Coimbra.
Jardins AAC, 1960
Jardins AAC, 2023
Entrada cantinas azuis, 1960
Entrada cantinas azuis, 2023
Fotografia por: Luísa Macedo Mendonça e Ana Filipa Paz; Biblioteca de Arte Calouste Gulbenkian (cedeu as antigas), RUC (cedeu uma relativa às infiltrações no edifício)