As eleições legislativas de 2025 marcaram um ponto de viragem na política portuguesa, revelando uma clara reconfiguração das forças partidárias e expondo o crescente descontentamento da população com o sistema político tradicional. Com uma taxa de participação a rondar os 64%, os portugueses expressaram nas urnas uma vontade de mudança e uma exigência de renovação no discurso e na ação política.

A grande surpresa da noite eleitoral foi o desempenho do Chega, que, sob a liderança de André Ventura, se afirmou como a principal força da oposição, ultrapassando pela primeira vez o Partido Socialista. Com 60 deputados eleitos, o Chega quadruplicou a sua representação parlamentar e consolidou-se como um ator central no novo xadrez político. A sua ascensão é sintomática de uma crescente polarização ideológica, mas também da perceção generalizada de que os partidos do "centrão" falharam em responder aos desafios sociais, económicos e institucionais do país.

A Aliança Democrática (AD), coligação liderada pelo PSD, conquistou a vitória eleitoral com 91 assentos, mas ficou aquém da maioria absoluta. Esta vitória, embora expressiva, coloca o partido numa posição delicada: terá de encontrar entendimentos com outras forças políticas para garantir estabilidade governativa. As hipóteses de uma coligação formal parecem improváveis, e a governabilidade dependerá de acordos pontuais — cenários que abrem margem para instabilidade e exigem um elevado grau de negociação parlamentar.

Já o Partido Socialista sofreu uma derrota histórica, descendo para a terceira posição com 58 deputados. Pedro Nuno Santos, até então secretário-geral do PS, apresentou a sua demissão na noite eleitoral, assumindo a responsabilidade por um resultado que considerou “claramente insuficiente”. Internamente, o partido enfrenta agora um momento de reflexão e reestruturação, com vozes a exigir uma mudança geracional e estratégica que permita reconquistar o eleitorado perdido.

A nova composição da Assembleia da República é um reflexo de um eleitorado mais fragmentado e exigente. Para além dos três maiores partidos, forças como a Iniciativa Liberal, o Bloco de Esquerda, o Livre e o PCP continuam a ter representação parlamentar, embora com variações pouco expressivas em relação a eleições anteriores. Este cenário de fragmentação aumenta a complexidade das negociações e poderá travar reformas de fundo se não houver consensos mínimos.

Do ponto de vista político, as eleições de 2025 simbolizam não apenas uma mudança de protagonistas, mas também uma mudança de paradigma. O crescimento da direita populista e a penalização das forças de centro-esquerda sugerem um país em busca de respostas claras e soluções eficazes, num contexto marcado pela inflação, crise habitacional, degradação dos serviços públicos e desconfiança generalizada nas instituições.

Mais do que uma mera alternância de poder, o que está em jogo nos próximos anos é a capacidade dos partidos de responderem aos anseios da sociedade com pragmatismo, responsabilidade e visão de futuro. O novo ciclo político exige uma classe dirigente capaz de dialogar, ceder e inovar — ou o fosso entre eleitos e eleitores continuará a crescer, com consequências imprevisíveis para a democracia portuguesa.