Mercado Municipal D. Pedro V

152 anos ao serviço da cidade

A partir de meados do século XIX, 1868, a cidade de Coimbra foi apetrechada com um edifício criado de raiz para o abastecimento de bens alimentares à população. Durante mais de um século manteve-se como o principal local de compra e venda de hortícolas, peixe, carne e ovos.

Até à construção do Mercado D. Pedro V, a cidade de Coimbra não dispunha de um local adequado para a transação de bens alimentares. Ora espalhados pelas ruas, ora pelas praças, os vendedores serviam a população em condições precárias. Com o rodar dos anos, as exigências de comodidade e higiene levaram à construção do atual mercado, nos terrenos outrora pertencentes à horta do Mosteiro de Santa Cruz.

Fonte fotografias: Câmara Municipal de Coimbra

Eugénia de Oliveira, uma das mais antigas vendedoras de fruta, tinha 20 anos quando veio para aqui trabalhar. Conta a sua história e a do mercado.

Saudosa dos velhos tempos, muito duros, mas que lhe permitiam ganhar a vida, lamenta-se da sua atual situação. A escassez de clientes e as fracas vendas não possibilitam compor a sua modesta reforma.

Ao longo dos anos, o mercado foi tendo os seus altos e baixos, refletindo a situação económica e social do país. Em comparação com outros tempos, o presente e o futuro não parecem muito risonhos. As obras, agora iniciadas, levantam muitas dúvidas e inquietações, mas alguma esperança. Urge que os conimbricenses voltem a colocar o Mercado D. Pedro V na lista dos lugares onde semanalmente se fazem as compras para casa.

Proprietária de um talho e também vendedora dos produtos cultivados por si e pelo marido numa horta nos arredores de Coimbra, Margarida Batista está há 40 anos na praça. Nestas conversas é sempre inevitável a referência ao passado glorioso do mercado, outrora a abarrotar de gente ansiosa para adquirir os melhores produtos.

Apesar da diminuição da afluência de compradores, provocada pela concorrência das grandes superfícies e pela pandemia da Covid-19, a esperança numa recuperação dos clientes é a última a morrer, para quem sente o mercado como sua segunda casa.

O mercado pitoresco e em grande parte ao ar livre, já não se adaptava às exigências da modernidade, e, por isso, a Câmara Municipal decidiu, no arranque do atual milénio, a construção de um novo mercado, no local do antigo, e a recuperação do Mercado do Peixe.

Fonte: Carlos Andrade

Fonte: Pinterest

José Júlio Luís Almeida, talhante, de 46 anos, de uma nova geração de vendedores, faz uma retrospetiva realista do que foi a praça e do que é hoje.  

Criticando o que acha estar mal, não se inibe de apontar também algumas responsabilidades dos próprios vendedores na decadência do mercado. Descreve as virtudes do espaço e revela confiança no futuro.

José Júlio analisa as atuais obras e coloca algumas reticências ao projeto, mas revela-se otimista, pois confia na qualidade dos produtos que oferece aos clientes, com quem estabelece um relacionamento duradouro. Com mais empreendedores como o senhor Júlio, o mercado começará a estar apto para servir a cidade por mais um século.

Talvez longe das glórias antigas, que se contam sobretudo pela grande afluência de clientes, ainda hoje preserva um ambiente único que não deixa ninguém indiferente. O mercado está vivo e pronto para seguir com a tradição que já tem mais de 150 anos. O edifício, o burburinho, o vozear das vendedeiras a chamar os clientes, o calor humano que se sente, tudo compõe uma atmosfera singular, que parecerá música para os ouvidos habituados ao som mudo dos centros comerciais.

Mercado vivo, palpitante, quase sem os pregões de outrora, mas ainda e sempre com as solicitações carinhosas das vendedeiras para os clientes. “Então o que é que vai ser hoje? Não quer nada meu? Para si faço-lhe a noventa cêntimos… Olhe que estive a vender a um euro e trinta. Oh menina, tenho 79 anos e ainda aqui ando, compre-me lá qualquer coisinha”.

Poder andar às compras e falar calmamente com as pessoas que vendem os produtos que cultivaram, permite estabelecer uma relação próxima, bem diferente das frias prateleiras e expositores dos supermercados.

Aqui, há tempo para apreciar o que está exposto e raramente se paga logo a compra que se vai fazer. Regatear o preço faz parte do vir à praça, embora hoje menos do que outrora.

As modas vão e vêm e o hábito de ir mercado, pelo menos ao sábado, está em crescimento e é uma tendência de longo prazo. Novos e velhos, os conimbricenses continuam a ter o mercado no coração.