neopaganismo

Foto: freestocks/Unsplash

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O mundo ao nosso redor é sagrado. Ele é feito de espaços limiares, de entidades que o formam e estão presentes em nós. Em sua origem, de acordo com Christopher McIntosh, o Paganismo “denota todas as religiões politeístas do mundo, orientadas pela natureza, incluindo aquelas que eram praticadas na Europa antes da Era Cristã”.

Religiões milenares começaram a ser consideradas pagãs com a chegada do Cristianismo. Em certo ponto, a religião cristã começou a adaptar algumas de suas práticas para agradar aos pagãos, de modo a convencê-los a seguirem o caminho do Deus único. A introdução do "coelho da Páscoa", por exemplo, surge da mitologia nórdica, com os festivais dedicados à deusa Eostre. Kassie, praticante da religião Celta Antiga, explica que, na maioria das religiões indígenas, os povos tinham uma conexão forte e direta com a natureza que os circundava.

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O termo "religião indígena" é também relacionado à recuperação de crenças ancestrais, em uma forma de busca pela espiritualidade. Em sua pesquisa "Entering the Magic Mists: Irish Contemporary Paganism, Celticity and Indigeneity", Jenny Butler explica que o que é chamado hoje de Neopaganismo "envolve mecanismos interessantes de se relacionar com o passado e, por entrar nas brumas celtas, permite recuperar símbolos e imagens de significado especial para o aqui e agora".

Danielle, uma praticante de bruxaria tradicional, demonstra sua devoção aos elementos naturais, e segue as estações do ano como pilares para suas práticas. Dispondo de um altar que possui recipientes para cada elemento, Danielle procura "honrá-los e pedir a eles por sua presença e poder, caso precise de algo extra durante os rituais ou feitiços".

Tradução. Voiceover por Vera Lia Mendes.

A espiritualidade é essencial na maior parte das religiões indígenas. Para os celtas, os pilares de seu credo consistiam, de acordo com Kassie, na conexão com o mundo natural e sua sacralidade, na veneração e respeito aos ancestrais, e, como parte essencial de seu meio, nas divindades. A praticante ainda explica que esse costume é ligado com o animismo, que atribui um espírito a todos os seres e objetos na Terra.

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A falta de documentos que reportem as práticas concretas das religiões indígenas é um dos desafios dos neopagãos. Com textos escritos por povos conquistadores, a visão sobre o paganismo nem sempre é fiel aos costumes tradicionais. O imperador Júlio César, em seu livro "Commentāriī dē Bellō Gallicō", admitiu que os gauleses eram literatos, mas proibiu seus druidas de escreverem qualquer tipo de material.

Melissa Harrington, da Universidade de Cumbria, escreveu que "Paganismo é uma religião que é tanto uma expressão da cultura contemporânea quanto o renascimento da religião de mistério politeísta". Em seus estudos sobre Wicca, uma religião que ganhou força nos anos 1950, a acadêmica concluiu que há um "motivo de reconhecimento" na experiência wiccana, em que há uma ênfase na "adoção da religião devido a um agente exterior", em detrimento de um sentimento de "voltar à casa", comumente atribuído aos que adotam outras religiões.

Kassie ainda aponta que "a natureza é tudo", e que ao encontrar objetos que significam algo para si e cultivar plantas, é possível entrar em contato com as divindades, mesmo que o praticante não viva no campo. Inserida no meio urbano, Danielle é uma de muitas praticantes de bruxaria que fazem do seu espaço doméstico um lugar sagrado.

Tradução. Voiceover por Vera Lia Mendes.

Práticas xamânicas também têm ganhado força nos últimos anos. Os xamãs - ou druidas, dependendo da religião - eram o elo entre os praticantes e o mundo espiritual e divino. De acordo com McIntosh, "xamãs modernos buscam inspiração de uma grande panóplia de praticantes tradicionais ao redor do mundo, do homem da medicina nativo americano à sacerdotisa-curandeira coreana". Os druidas, na religião Celta, "eram padres, acadêmicos, artistas, médicos, advogados, juízes - eles utilizavam muitos chapéus", lembra Kassie. A praticante ainda sublinha que o domínio das ervas era essencial para a profissão; e a conexão com a natureza, em seus intrínsecos elementos, indispensável.


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"Com o colapso da religião secular do comunismo e com o aumento do desencanto com o credo materialista do capitalismo", afirma McIntosh, "muitas pessoas são deixadas com um sentimento de 'vácuo espiritual'". A volta do Paganismo, para além de propor a conexão com a natureza em um contexto de alterações climáticas, representa "uma reação contra a globalização e a homogeneização cultural que a acompanha", complementa o professor.

O contato com o desconhecido gera desconforto: "Havia tanto um medo das tribos celtas quanto uma mística sobre eles", explica Kassie. Para os neopagãos, o acesso a livros e comunidades representa a forma primordial de contato com as religiões, embora a praticante sublinhe que "você pode ler todos os livros que quiser, mas isso não o faz um pagão. É a prática e o estilo de vida diário que o fazem".

Video: Ashutosh Jaiswal

Video: Ashutosh Jaiswal

Trabalho de Jornalismo Multimédia

por Ana Laura Simon

Video: The Element

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Bibliografia

- Entrevista com Kassie, praticante da religião Celta Antiga, Califórnia.
- Entrevista com Danielle, praticante de bruxaria tradicional, Nova Iorque.
- Butler, J. (2019). Entering the Magic Mists: Irish Contemporary Paganism, Celticity and Indigeneity.
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Harrington, M. (2015). Reflecting on Studying Wicca from within the Academy and the Craft: An Autobiographical Perspective.
- McIntosh, C. (2004). The Pagan revival and its prospects.
- Saunders, R. A. (2013). Pagan places: Towards a religiogeography of neopaganism.