O impacto da pandemia de covid-19 nas empresas

Reportagem

A economia portuguesa enfrenta um dos maiores desafios dos últimos tempos. Todas as empresas sofreram diretamente o impacto da pandemia de Covid-19. A Moldes RP não foi exceção. Esta média empresa, situada na Marinha Grande, distrito de Leiria, emprega 75 trabalhadores. Comercializa para as indústrias automóvel, médica e farmacêutica e, também, de utensílios para casa, como eletrodomésticos.

Os funcionários da empresa estão distanciados. Todos, sem exceção, fazem uso da máscara e das luvas. Em vários locais existem frascos com álcool gel. Esta é a realidade vivida na Moldes RP e acredito que também seja a de muitas empresas. As que, felizmente, conseguiram contornar a situação pandémica e não recorreram ao lay-off nem abriram falência. Segundo os dados do Banco de Portugal, na semana de 20 a 24 de abril, 54% das empresas recorreram ao lay-off simplificado.

Rui Pinho, empresário e gestor da Moldes RP, privilegia a saúde e segurança de toda a empresa. No início da pandemia, após reunir com todas as chefias, decidiu dividir a equipa em dois turnos, com uma hora de intervalo para higienização. O empresário admite que “ao dividir a equipa em dois turnos, os setores ficaram mais fracos” e, por isso, durante a primeira semana não houve tanta rentabilidade. Porém, “na segunda semana já havia uma maior interligação entre as pessoas, de maneira a fazer cumprir o bom funcionamento da produção”, acrescenta.

“Por Portugal, todos unidos na região de Leiria”

Perante a situação pandémica, de acordo com os dados do Banco de Portugal, 27% das empresas respondentes referiu ter adaptado a sua atividade, através da diversificação ou modificação da produção.

Com a drástica diminuição do fabrico de moldes, eis que surge uma alternativa para a Moldes RP. Os alunos do Instituto Politécnico de Leiria (IPL) estavam a fazer desenhos para a produção de viseiras. Dado a falta delas nos hospitais, nos lares e em várias instituições, a Moldes RP, de imediato, pensou em colaborar. Deste modo, a empresa desenhou e produziu o molde e, em menos de uma semana, já produziam viseiras.

A Moldes RP e outras empresas do distrito começaram por oferecer viseiras a todos os profissionais de saúde e forças de segurança da região de Leiria. De acordo com Rui Pinho, “umas ofereciam sacos, outras ofereciam o elástico e outras ofereciam outros produtos necessários” e na Moldes RP “fabricávamos os aros e a embalagem, furávamos e cortávamos os elásticos e fazíamos a montagem”. O empresário revela, também, que “a Câmara de Leiria foi um grande apoio para as empresas porque disponibilizou-se para fazer o pagamento da maquinação do corte das viseiras. Portanto, sem a Câmara de Leiria não teria sido possível oferecermos tantas viseiras.”

Com o slogan “Por Portugal, todos unidos na região de Leiria”, as empresas forneceram milhares de viseiras aos hospitais, aos lares e a outras instituições.

"Temos uma grande capacidade de produção"

A Moldes RP começou a produzir viseiras por solidariedade, mas cedo percebeu que esta seria uma das melhores formas de continuar a laborar. Assim, “partimos, também, para o negócio”, afirma Rui Pinho. “Fabricámos um molde de seis cavidades e três máquinas para furar as viseiras e cortar os elásticos. Tudo isto nos levou a sermos mais competitivos na produção das viseiras a fim de as colocar no mercado a um preço aceitável”, explica o empresário. Garante, ainda, que “a nossa viseira é uma viseira que tem qualidade”. Atualmente, produzem 210 mil unidades por semana, o que, nas palavras de Rui Pinho, “satisfaz o nosso mercado e até o mercado externo”.

Paralelamente à produção de viseiras, a empresa continua a produzir alguns moldes, pois com a divisão da equipa é possível produzir ambos, simultaneamente. “A decisão de partir para o negócio das viseiras fez com que toda a equipa tivesse trabalho. Por isso, não houve necessidade de ir para lay-off”, constata Rui Pinho.

O empresário revela que “seria impossível as empresas sobreviverem sem as medidas que o Governo tomou para as proteger, nomeadamente todos os apoios financeiros que foram criados”. No entanto, a indústria está dependente do mercado externo, que também se encontra afetado pela pandemia e, desta forma, é certo que as encomendas irão aparecer mais tarde. Nesse sentido, considera que “pode haver necessidade de um apoio alargado por parte do Governo”.

Aos poucos tudo parece voltar à normalidade. Na Moldes RP, a produção de moldes tem vindo a aumentar novamente, mas as viseiras também continuam a ser produzidas. Recentemente, iniciaram, também, a produção de zaragatoas, utilizadas no exame à Covid-19.

Segundo dados do Banco de Portugal, “a proporção de empresas em funcionamento na 1ª quinzena de maio aumentou para 90%, face a 84% na quinzena anterior, salientando-se o setor do Comércio, onde a percentagem aumentou de 84% para 92%”. 

Atendendo ao momento e à fase crítica que todas as empresas estão a atravessar, é de salientar e enaltecer a capacidade que elas tiveram em se adaptar e reinventar, uma vez que foi uma situação nova e inesperada para todos. Este comportamento das empresas contribuiu, de forma eficaz, para que a crise económica não se tornasse tão aguda e profunda.

Imagem principal: https://www.moldesrp.pt/

Restantes imagens por Gabriela Pereira