O Projeto da Linha de Arganil
Um caminho traçado por incertezas

É uma verdade que este projeto já viveu várias fases e as criticas e avanços que já sofreu são justas e são óbvias devemos por isso, enquanto governantes, um pedido de desculpas às populações desta região (...) O nosso planeamento diz que em 2022 iremos ter a circulação de metrobus neste sistema
Este projeto metro mondego já gastou 118 milhões de euros. Já produziu mais de 90 estudos, já é preciso arranjar um estudo para estudar os estudos, e outro para decorar os estudos. Bom, finalmente, começamos a mexer nas pedras de modo que o sistema de mobilidade mondego seja uma realidade para os cidadãos de Coimbra, Miranda do Corvo e da Lousã
Os sistemas de mobilidade de Coimbra
Desde o inicio da utilização dos caminhos de ferro como forma viável para meio de transporte no século XIX, Portugal tentou implementar diversas formas de mobilidade mais convenientes pelas suas cidades com um surgimento de diversos meios de transportes para conectar as suas ruas e os diversos bairros que se encontravam por toda a cidade. Em Coimbra, durante anos houve diversas fases como em 1874, com Rail Road Conimbricense a implementar um caminho de ferro para ligar a sua calçada à estação do norte, a implementação dos elétricos no inicio do século 20 (atualmente desativados) para substituir o transporte a cavalo e o aparecimento dos trolley carros e autocarros no meio do século 20 para facilitar o transporte de uma população que se encontrava em crescimento.
Estes diversos meios de transporte concluíram a eficácia destes sistemas de mobilidade e um futuro próspero para uma maior conexão entre diversas regiões e os habitantes que viviam fora da cidade, muitos à espera que esta revolução chegasse às suas terras. Este seria o caso para as terras de Lousã e Miranda do Corvo, que após a construção do caminho de ferro que iria ligar diretamente a atual estação de Coimbra-B ao centro (Coimbra-A) em 1885, iria-se criar a projeção uma nova ligação ferroviária que iria conectar estas vilas e os seus arredores ao centro de Coimbra, continuando assim a expansão deste ramal.
A história de como foi formado e como chegou ao estado atual, conhecido pelo Sistema de Mobilidade do Mondego e Metrobus, mudou em diferentes formas durante mais de 100 anos.
Linha de Arganil
Ferrovia até Arganil mas com paragem na Lousã
Após o sucesso da criação do Ramal de Coimbra, ligação ferroviária que ligava a atual Coimbra-B a Coimbra-A, em 1885, planos já estavam a ser planeados para expandir para território fora de Coimbra. Esta expansão serviria para ligar Coimbra-A até Arganil, tendo sido criada a Companhia do Caminho de Ferro do Mondego para gerir e planear os estudos desta nova ideia, com a aprovação para iniciar o projeto em 1889. Este, nunca saiu dos papeis devido à falência da Companhia do Caminho de Ferro do Mondego por causa de problemas financeiros e dos empreiteiros terem objeções no trabalho da linha, com o projeto a ser transferido à Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses e ao Caminho Ferro do Arganil em 1904. Estas duas empresas irão dar continuidade ao projeto mas a linha não chegaria a Arganil, tendo sido realizada o troço até Lousã, este que iria ser inaugurado a 16 de dezembro de 1906 e conectando assim Miranda do Corvo e Lousã, tendo este evento sido celebrado pelas suas populações e os jornais da altura.


“o comboio não vinha por si só operar uma transformação, mas simplesmente auxiliala e quando muito promovela. A nós e só a nós cumpre levala a cabo, e só do nosso esforço ella pode sahir”.
“o comboio vinha cheio de pessoas que nelle haviam tomado lugar em Coimbra e nas estações intermedias até Miranda do Corvo, e era composto da machina 0,8 , duas carruagens de 3.ª classe, duas de 2.ª e quatro de 1.ª e um fourgon”

Lousã até Serpins
Um futuro para ferrovia do centro que teve o terminal em Serpins
A conexão entre as Miranda do Corvo, Lousã e Coimbra tinha sido realizada mas este não seria o final do projeto e planos já estavam a ser feitos para continuar a visão original de levar o comboio até Arganil. A declaração para esta continuação foi aprovada a 8 de junho de 1923, com a sua construção ter sido dada à Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses e estipulada em duas fases:
- A primeira entre Lousã e o Rio de Ceira em 1924, levando à construção da ponte que atravessaria o rio Ceira e que mais facilmente permitisse uma conexão intermediária entre Lousã e Serpins. A estação ferroviária de Serpins e do seu troço foi inaugurada em 1930;
- A segunda uma ligação entre Lousã e Góis, que se encontrava em construção em 1926, sendo mais um passo para concluir a ligação entre Coimbra a Arganil. A importância desta linha não seria só a sua conexão até Arganil porque neste mesmo período estava a ser considerado a conexão da linha desde de Arganil até Santa Comba Dão, com o governo e o Plano Ferroviário Nacional do Continente a revelar que a linha seria um ponto integrante para conectar todo o centro.
A segunda fase nunca foi concluída, com o maior avanço para continuar a obra feito em 1932 por delegações de diversos representantes das autarquias de Arganil, Góis, Oliveira do Hospital, Santa Comba Dão e Tábua com o ministro do comércio da altura. Estas não foram para alem de discussões e o ramal terminaria em Serpins, com as únicas atualizações feitas à linha sendo nos seus comboios e materiais dos carris, nunca levantando a possibilidade da continuação do projeto à ideia original e com o ramal a ficar a ser conhecido por Ramal da Lousã.



Criação do Metro Mondego
Evolução da linha que marcou o fim desta
Apesar do seu estatuto de conseguir ligar estas vilas a Coimbra e não ter sido concluído propriamente o projeto, os comboios, agora controlados pela Comboios de Portugal (CP), faziam a sua função mas com ideais presentes de atualizar a linha para algo mais urbano, cómodo e intercetado. Uma destas formas era conectar a linha do ramal de forma mais eficientemente ao resto da linha ferroviária da CP, com a sugestão da criação de um metro ligeiro de superfície como a solução para isto. Em função disso, em 1996, de forma a concretizar este projeto, foi criada a companhia Metro Mondego, gerida pela Câmara Municipal de Coimbra, Comboios de Portugal e o Metro Metropolitano de Lisboa. Embora diversas medidas para a implementação do projeto, dificilmente a obra começou a ser construida, devido a diferentes opiniões por diferentes partes da equipa. O projeto não moveria devido as diversas razões incluindo:
- A falta de capital financeira por parte da CP que se encontrava com problemas financeiros e não querer investir mais do que estava estipulado no projeto do Metro Mondego, tendo o governo português interferir;
- A falta de coordenação do que seria o projeto e como ser realizado, com empreiteiros da Lousã a querer eletrificar a via e continuar a expansão até Arganil enquanto que outros gerentes na autarquia de Coimbra a planear como este metro podia seria organizado no meio da cidade;
- A nova presidência da Câmara Municipal de Coimbra por Carlos Encarnação, que exigiu uma revisão total do projeto para poder incluir o centro da cidade e outras alternativas para o trajeto.
- O Concurso Internacional que foi lançado, para fornecer mais formas monetárias de investir no trajeto e para ter o metro a funcionar em 2010, algo que não aconteceu.
Apenas em 6 anos foi gasto mais de 100 milhões de euros num projeto que não se encontrava em movimento, com o futuro da renovação da linha em incertezas até à data de 7 de março de 2006, com o ministério de Transportes a afirmar o seu contributo para esta causa. Para concretização deste foram estabelecidas 2 fases:
- 2007 a 2008, modernização das estações e dos comboios para garantir o bom funcionamento e quaisquer imprevistos na obra.
- 2008 a 2011, integração do interior de Coimbra levando a que este tivesse novas paragens como o Hospital Universitário e eletrificar a linha do Ramal da Lousã.
Para alem disto também foi criado o "Espaço Metro Mondego" na rua da sofia em Coimbra. Este espaço foi utilizado como uma forma de ver o passado e futuro desta linha não só para motivar a população sobre o projeto mas também como uma forma de celebrar o centenário do ramal, que tinha ocorrido em 2006.
As obras no troço começaram em 2010, com renovações nas estações de Miranda do Corvo e Lousã já reabilitadas para o novo trajeto intermodal, com a substituição dos carris como o primeiro passo para o inicio do metro e que levou à finalização do serviço do comboio (e das suas estações) no ramal a 3 de janeiro de 2010, que foi substituído por um sistema de autocarros fornecidos pela Transdev usando as estradas nacionais como meio de deslocação provocando o descontentamento de muitos pelo fim do comboio e o fim de uma era.
"O primeiro dia vai ser às cegas. Há 27 anos que venho neste comboio, tenho lembranças para todos os gostos"
"Vai ser muito transtorno, já tenho os novos horários mas nunca é como o comboio."
O projeto não iria mover para além deste ponto, devido aos adiamentos com os estudos, os problemas em demolição de edifícios para criar a linha da baixa de Coimbra até ao hospital, a crise financeira que Portugal enfrentou entre 2010-2014 e em 2015, numa investigação da PJ revelada ao Público, a revelação de maus uso dos fundos da empresa por 6 administrativos. Em 2011 o projeto foi suspenso e a companhia do MetroMondego ficou em limbo. Esta suspensão levou à insatisfação da população que ficou sem linha por causa de um projeto de alguns anos mas que levou mais de 100 milhões de euros e que não teve fim.




Após o comboio
As populações, os autocarros e o abandono

Fonte: Adriano Miranda (2020)
Fonte: Adriano Miranda (2020)
Passageiro aguarda o autocarro nas paragens "provisórias"
Fonte: Coimbra Canal
Fonte: Coimbra Canal
Manifestações de 2014 em favor ao metro Mondego em frente ao Instituto de Juventude em Coimbra

Fonte: Público (2010)
Fonte: Público (2010)
As populações um mês após os autocarros entrarem em serviço

Fonte: Fernando Dias (2019)
Fonte: Fernando Dias (2019)
Antiga estação de Serpins

Fonte: Paulo Novais (2024) - LUSA
Fonte: Paulo Novais (2024) - LUSA
População de Miranda do Corvo em direção a Coimbra, 14 anos após entrada do serviço
Canção "Ao Metro" da banda aBAND'onados sobre o metro Mondego, onde é possível observar o estado do troço.
Fonte: TVI
Fonte: TVI
Manifestações de habitantes Serpins em Lousã ao metro mondego
Estado atual da linha
Sistema de Mobilidade do Mondego e o uso de um sistema de Bus Rapid Transit
Em 2017, renasce o projeto do Metro Mondego mas com um nome e ideia diferente: o Sistema de Mobilidade do Mondego, com o anuncio feito pelo Ministro de Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques, em conjunto com estudos de técnicos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil numa conferencia pública na Câmara Municipal da Lousã. Neste programa é revelado uma completa reestruturação do plano, com a criação de um metro ligeiro já não sendo a mais considerável para este e optando por um sistema de autocarros elétricos com linha própria, aproveitando assim o antigo ramal que há muito tempo encontrava-se sem uso e adaptando-o. Nas paragens antigas também foi planeado um novo sistema de bilhetes e paragens com cobertura.
Não só, mas este sistema também previa o uso destes autocarros no interior de Coimbra e que seria usado não só para cumprir as antigas ideias do antigo projeto Metro Mondego como a passagem pela baixa de Coimbra e a paragem no Hospital Universitário mas também para substituir a ligação da estação nova à estação velha, acabando com os comboios nesta linha e fechando a estação nova. O plano seria este projeto demorar apenas 3 a 4 anos com a operação deste novo sistema em 2021.
Este não iria entrar em funcionamento nessa data, com os concursos para empreitadas apenas realizados e finalizados em 2020, estabelecendo o investimento nas diferentes partes do projeto suburbano e urbano com um investimento superior a 50 milhões de euros. Em 2021, foram assinados os papeis para a construção das oficinas e dos autocarros num investimento de aproximadamente de 70 milhões de euros.
A linha foi adiada várias vezes, sendo a data final para o seu funcionamento no final de 2024 em sistema suburbano e 2025 para o sistema urbano.
Durante este período entre 2021 a 2024, diversas obras já ficaram concluídas e várias mudanças foram já reveladas, implementadas e contestadas. Algumas destas sendo:
- A alcatrização e modificação do ramo da Lousã para ao novo sistema, que se encontra quase completa;
- A renovação da praça de 25 abril em Coimbra e chegada do primeiro autocarro;
- A implementação das novas paragens com o novo sistema de compra de bilhetes;
- A reconstrução para adaptação do autocarro em linha própria na Estação velha, Portagem, Baixa e linha do Hospital.
- A renovação das antigas estações, com a antiga estação da Lousã já aberta ao público como alojamento local e planos para o mesmo em Serpins.
- O adiamento do encerramento da estação nova, que continua a ser muito protestada para permanecer aberta e continuar os seus serviços, principalmente pelo movimento cívico da estação nova





A reportagem sobre o comboio que se transformou em autocarro
Desde do inicio da linha de Arganil para o ramal da Lousã, do comboio pesado para o metro ligeiro e agora do projeto sem fim para implementação de sistema de autocarros, a história deste ramal é complicada com diversos trabalhos feitos para que este ficasse concluido. Um comboio que iria trazer um centro mais unido e conseguindo fazê-lo ao trazer uma nova forma de viajar a antigas e isoladas, vilas e aldeias pelo interior do concelho de Coimbra. A revolução do comboio, trouxe diversas inovações e uma nova possibilidade de viajar e o seu futuro agora encontra-se num investimento de um autocarro que poderá ser melhor ou pior mas que será sempre diferente e dificilmente consegue substituir as memórias de quem viajou no antigo comboio.