O rock está morto?
O que levou a perda de popularidade do rock entre a camada mais jovem nos ultimos anos?

Rock n` Roll - Great Balls Of Fire - Jerry Lee Lewis
Heavy Metal - You Shook Me All Night Long - AC/DC
Hard Rock (ou Rock Clássico) - Civil War - Guns n´ Roses
É nos anos 50 que os Estados Unidos da América dá palco a um novo gênero musical. Com combinações do Blues, Jazz e da música Country, o gênero dançante denominado de "Rock n` Roll" rapidamente conquista o publico jovem da época. Nomes como Jerry Lee Lewis, Ray Charles, Chuck Berry e, claro, Elvis Presley dominam as tabelas e as festas que frequentavam os jovens. Os anos passaram e o gênero foi evoluindo.
Nos anos 70 o Heavy Metal atinge o auge do seu destaque. O subgênero já não é unanimidade entre a população, os acordes de guitarra e gritos mais violentos afastaram algumas pessoas do estilo musical, mas não impediu que arenas estivessem completamente lotadas para um concerto dos Iron Maiden, Black Sabbath ou dos AC/DC, por exemplo. A década foi marcada por estádios desportivos locados e um grande avanço tecnológico e musical do gênero. O auge comercial do gênero como um todo veio na década seguinte.
O Rock Clássico (na época conhecido como Hard Rock) assume o topo das tabelas e alcança mais de metade das músicas da Billboard, entre as mais ouvidas do ano. Foi o único gênero musical a conseguir fazer isso na história. Bandas como Guns n` Roses, Queen, Van Halen, The Police ou ate mesmo artistas solo como Jon Bon Jovi marcam as memórias de quem era adolescente a época e fazem com que o rock retorne a unanimidade da camada mais jovem da população. Mais que um gênero mainstream, o rock tornou-se parte da personalidade de toda uma geração, que sentia-se representada nas letras e a enxergava como uma maneira de rebeldia, oposição ao sistema
A hegemonia do gênero que parecia inabalável com o passar dos anos começa a cair nos anos 90. A queda do Rock da lugar a ascensão de outros gêneros musicais que passam a incorporar o panorama musical global.
O músico Helder Bruno refere o Pop como "o grande chavão musical da sociedade", como se o gênero servisse de uma espécie de "molde" para o sucesso de outros. "Em sequência vem o Hip-hop, muito por causa das temáticas trabalhadas no gênero, tem muito mais alcance nas camadas mais jovens da sociedade que outros gêneros".
É nos anos 90 em que o Hip-hop que conhecemos hoje em dia explode e cai nas graças da população, especialmente mais jovem. Helder Bruno segue a explicação das temáticas, evidenciando que "a mensagem do rock é muito mais difícil de compreender quando comparamos com outros gêneros, como o Funk brasileiro, o Pop e o Hip-hop, que factualmente transmite a mensagem de forma muito mais simplificada".
Os anos 2000 marcam o início da era da digitalização. Algo que o professor universitário também justifica como um dos grandes culpados pela morte de Rock. A digitalização trouxe uma enorme rapidez e facilidade de disseminação de informações, especialmente nas redes sociais, onde a atual geração "que sente a necessidade de se autorrepresentar pelos códigos da maioria, dos mais populares". Não é novidade que a geração mais nova é atraída pela rebeldia, "foi justamente assim que o rock chegou onde chegou", então as redes sociais trazem "gêneros underground, as novas gerações sentem-se representadas e transformam aquilo em mainstrem".
Quantidade percentual de gêneros musicais na Billboard (as 100 mais ouvidas do ano) a cada 50 anos. O rock é o primeiro gênero musical da história a atingir mais que 50% das músicas. O Jazz e o Country já sairam de moda. O Hip-Hop e o Pop ainda estão em estágios muito iniciais.
Quantidade percentual de gêneros musicais na Billboard (as 100 mais ouvidas do ano) a cada 50 anos. O rock é o primeiro gênero musical da história a atingir mais que 50% das músicas. O Jazz e o Country já sairam de moda. O Hip-Hop e o Pop ainda estão em estágios muito iniciais.
Em apenas 10 anos o Rock sofre uma queda vertiginosa, mas segue como o principal gênero musical da Billboard. Jazz e Country seguem em baixa, Hip-Hop assume o posto de segundo gênero mais ouvido.
Em apenas 10 anos o Rock sofre uma queda vertiginosa, mas segue como o principal gênero musical da Billboard. Jazz e Country seguem em baixa, Hip-Hop assume o posto de segundo gênero mais ouvido.
Chegam os anos 2000 com a era da digitalização. É visível um choque entre maior parte dos gêneros analisados. Rock segue em queda, enquanto outros gêneros crescem. O Country cai novamente nas graças do povo, mas o gênero que assumiu o posto de mais ouvido foi o Hip-Hop.
Chegam os anos 2000 com a era da digitalização. É visível um choque entre maior parte dos gêneros analisados. Rock segue em queda, enquanto outros gêneros crescem. O Country cai novamente nas graças do povo, mas o gênero que assumiu o posto de mais ouvido foi o Hip-Hop.
Os anos 2010 são considerados a era de ouro do Pop, assumindo o posto de gênero mais ouvido. Hip-Hop segue crescendo, em empate técnico com o Pop. Country mantêm-se estável. O Rock, cada vez mais, cai no esquecimento, com menos de 5% das músicas.
Os anos 2010 são considerados a era de ouro do Pop, assumindo o posto de gênero mais ouvido. Hip-Hop segue crescendo, em empate técnico com o Pop. Country mantêm-se estável. O Rock, cada vez mais, cai no esquecimento, com menos de 5% das músicas.
Parece contradição, os jovens atraem-se pelo o que é underground, mas ao mesmo tempo pelos códigos da maioria? A explicação é muito simples e muito correlacionada com o que aconteceu com o rock, principalmente no seu auge comercial nos anos 80.
Helder Bruno já explicou sobre a facilidade de transmissão da mensagem do Hip-hop para as camadas mais jovens, e é justamente ai que assenta a explicação: "Mesmo sendo um gênero mainstream, o Hip-hop, exatamente igual como foi o Rock anos atrás, traz críticas sociais claríssimas nas letras, para além de uma ideia de futuro, superação da pobreza". Desta forma, é perceptível que houve uma substituição do âmbto musical entre o Rock e o Hip-hop, este assumindo o papel de principal gênero rebelde, alternativo e de críticas sociais. Para Helder Bruno, apesar de "não ser uma ciência exata, sim, podemos dizer que o Hip-hop substituiu o Rock".
Mesmo em um cenário onde o Rock traz cada vez menos visibilidade, ainda existe quem vá pela alternativa e faça a música que ama. Os Epilepsia Alienígena são um exemplo.
Inicialmente como uma banda punk, os Epilepsia atualmente consideram-se uma banda de Rock Psicadélico e ensaiam em um parque de estacionamento.
Diogo Silva, vocalista da banda, também conhecido como "Ninja", tem uma visão muito estoica da desvalorização do Rock. Para ele "as pessoas escutam o que quiserem, se querem ouvir concertos de 3 horas das mesmas músicas que tocam na rádio todos os dias que escutem, apoio a liberdade. Da mesma forma que as pessoas escutam o que quiserem, eu toco o que eu quiser". Questionado sobre a valorização do Pop e do Hip-ho em comparação ao rock, o vocalista acredita que seja "natural, a media vai valorizar o que maior parte das pessoas escutam, aquilo que tem mais investimento, e não 5 gajos em uma garagem a fazerem barulho". Então, seria isso que o Rock tornou-se? Do gênero mais ouvido do mundo a apenas barulho? "Sim, é assim que a media vê, é assim que as futuras gerações veem, então sim. Não importa o quanto que esse barulho signifique para nós".
Os jovens também evidenciam algo chamado de "Efeito Tiktok". Os artistas cada vez mais buscam a viralização das músicas em redes sociais "e colocam mais a alma nas letras e nas melodias, nada. Isso não combina com o Rock". Atualmente, 40% de todos os sucessos musicais tem menos de 3 minutos, isso factualmente evidencia o tal "Efeito Tiktok" quando percebemos que existiam músicas no passado que superavam os 10 minutos.
"O principal problema? A atual geração não tem mais paciência", desabafa o vocalista.

Apesar da grande queda que o gênero musical apresentou, uma pesquisa da cientísta de dados Daniel Parris, publicada na newsletter de Chris Dalla Riva mostra que a "morte do rock" não necessariamente é preciso ser vista como algo negativo pelos fãs.
Comparação de pesquisa no Google entre 2004-presente entre termos e artistas relativos ao Rock (azul), Hip-Hop (vermelho) e Pop (amarelo).
Comparação de pesquisa no Google entre 2004-presente entre termos e artistas relativos ao Rock (azul), Hip-Hop (vermelho) e Pop (amarelo).
Desde a origem do movimento, os fãs adotaram a ideia de rebeldia para eles, de movimento alternativo. Dessa forma, a tal perda de popularidade do Rock traz de volta a ideia de autenticidade, que segundo muitos foi perdida, principalmente nos anos 80, o auge comercial do Rock. Sem as pressões comerciais, sociais e principalmente da media, a pesquisa revela que o gênero está longe de uma eventual saturação, algo que músicas Pop ou do Hip-Hop estão muito mais suscetíveis.
Questionado sobre uma eventual morte do Rock, Helder bruno encerrou dizendo que é "impossível que um gênero musical tão relevante como o Rock foi, ou é, morra". O professor diz que sempre vai haver quem goste de ouvir aquele solo de guitarra específico, aquele grito específico ou aquela letra específica. Mais importante, vai passar esse gosto para seus filhos.
O vocalista dos Epilepsia Alienígena evidencia o comentário do músico simplesmente olhando ao redor de onde a banda ensaia. "Ao olharmos ao redor, são apenas jovens aqui, o Rock não é música de velhos como já ouvi muitas pessoas a dizer por ai". A mesma pergunta foi feita ao Ninja. Diogo revela esperança, ao dizer também que o Rock nunca morre "porque ele traz memórias com ele. Não estamos a falar apenas de artistas isolados, bandas desconhecidas e resquícios de som. Estamos a falar de décadas de história. Décadas de relevância e, principalmente, décadas de memórias. Isso é impagável".
Factualmente, enquanto ainda existirem pessoas que sintam nostalgia ao escutarem clássicos do passado, pessoas que passem essa nostalgia aos filhos, ou cinco gajos em uma garagem a fazerem barulho, o Rock nunca vai estar morto.