Orxestra Pitagórica

O uso da sátira para tocar nos tabús

A Orxestra Pitagórica é um dos grupos que compõem a Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra. Conhecida pelas sua atuações hilariantes, nasceu com o principal intuito de satirizar os assuntos e aspetos da vida académica da cidade dos estudantes e do panorama social e económico do resto de Portugal.

As origens da Pitagórica, como é popularmente conhecida, datam aos finais do século XIX, quando é fundada, na altura como Xaranga Pitagórica pelo estudante Diogo Polónio.

No entanto, a atual encarnação surge em 1981, quando entra para a Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra, para, segundo os próprios, preencher a "lacuna da academia coimbrã de não haver ninguém capaz de dizer coisas sérias a rir". Conhecida pelas suas letras irónicas, com instrumentais de músicas portuguesas icónicas, e pelos os instrumentos "seríssimos" como sinal de trânsito e sanita, para nomear alguns, que acompanham os instrumentos mais clássicos como a bateria, a guitarra, o baixo e o saxofone.

Entrevistei Miguel Santos, estudante da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, membro da Pitagórica e tocador de sinal, para percebermos mais um pouco sobre este grupo musical e a sua história.

Miguel, também conhecido por "O2" (é dado uma alcunha a todos os membros), começa por dizer que, apesar da Pitagórica ter sido formada há mais de 100 anos, não teve um percurso uniforme. Foi reformulada várias vezes até a entrada na Secção de Fado mas, conta Miguel, as ideias base sempre estiveram presentes. Os vestuários usados, embora não serem os mesmo de agora (batina do traje académico virada ao contrário, turbante, etc) sempre foram com a intenção de serem arrojados, irreverentes e de desafiar o status quo. O estudante conta-nos que decidiu entrar para este grupo pelo seu amor pela música e precisamente por este estilo rebelde, irreverente e idiossincrático que é característico deste grupo musical.

Em 1989, a Pitagórica edita, com a Secção de Fado, o seu primeiro, e até hoje, único álbum de originais, "a2+b2=c2".

Miguel conta ainda que, para alguém se tornar membro da Pitagórica, terá de passar por uma entrevista e um "ritual de iniciação" , ao qual não pode adiantar mais detalhes. Depois de se tornar membro oficial, o indivíduo irá encontrar um ambiente académico único na academia conimbricense, ao que O2 descreveu como "uma hierarquia anárquica e uma anarquia hierárquica.

Um bocadinho distante dos seus tempos áureos, em que, especialmente depois do lançamento do álbum, a Pitagórica tocava "uma ou duas vezes fora de Coimbra" e chegou a ir às televisões portuguesa e espanhola, este grupo infame da cidade dos estudantes continua a dar os seus concertos por Coimbra, culminando todos os anos com um concerto no palco principal da Queima das Fitas, e a percorrer o país de norte a sul, evento em evento e romaria em romaria.

Miguel fala ainda sobre o festival que esta geração da Pitagórica fundou, o Pita Sanita Sound, que já teve duas edições com bastante sucesso, e que tem como intuito dinamizar a cultura e a música portuguesa e obter novos fundos para o grupo. Nomes como Filipe Karlson, David Bruno e Cassete Pirata já marcaram presença neste evento, mas a imagem de marca que ficou, sempre foi dos turbantes brancos e batinas ao contrário a cantar as suas letras satíricas como "Tabaco", "Zumba na Caloira" e "Ferrari" ao som dos maiores hinos da música portuguesa, com sinais e sanitas a acompanhar as guitarras e a bateria, com a Orxestra Pitagórica a fechar ambos os festivais.

- Imagens retirada do arquivo da Secção de Fotografia da Associação Académica de Coimbra

Miguel Santos "O2"

Miguel Santos "O2"