Pussy Riot

Uma história de punk, feminismo e revolta

Em Moscovo, um grupo de cinco raparigas prepara-se para invadir a Catedral de Cristo Salvador e gritar a sua própria oração. Apetrechadas de balaclavas coloridas, vestidos e guitarras, transformam o altar da catedral num palco para um concerto de guerrilha - aquele que vai meter as Pussy Riot no mapa e Nadezhda Tolokonnikova, Maria Alyokhina e Yekaterina Samutsevich na cadeia.

Nadezhda Tolokonnikova

Maria Alyokhina

Yekaterina Samutsevich

A atuação feita a 21 de fevereiro de 2012 tinha como objetivo criticar a união entre o estado e a igreja. "Virgin Mary, Please Get Rid of Putin" é o título autoexplicativo da música, que pedia à Virgem Maria para se tornar feminista.

De facto, segundo uma entrevista que Tolokonnikova deu à VICE, o grupo foi começou as suas atividades políticas quando o regresso de Putin foi anunciado pelo presidente Medvedev, em 2011. Todos estes factos são explicados no documentário Pussy Riot: A Punk Prayer.

"Uma mulher devia poder subir ao altar porque não é uma criatura pecadora."
Nadezhda Tolokonnikova

As balaclavas e os vestidos coloridos acompanhavam as guitarras e as obscenidades nas letras das músicas punk que as Pussy Riot compunham. Esta era a sua imagem - as cores de mão dada à violência das suas vozes.

Tolokonnikova explicou à VICE que ser punk não é uma questão estética. "Nos anos 70 os punk usavam mohawks e espinhos, mas para mim um punk tem de redefinir o comportamento de um punk", afirma.

"Qualquer pessoa pode pertencer às Pussy Riot, só precisam de uma máscara, vestidos, de escrever uma letra e pensar num bom sítio para atuar", explicam as ativistas no documentário Pussy Riot: A Punk Prayer.

Antes do concerto na catedral, o grupo ganhou alguma notoriedade com a performance "Putin Pissed Himself". Os títulos e as letras são consistentes com a defesa dos seus valores - feminismo, direitos LGBT e, se ainda não estava claro, oposição ao presidente Putin, que se traduz no seu antiautoritarismo.

Uma das razões que motivou a escolha da Catedral de Cristo Salvador como palco foram os ideais religiosos, que se opunham às crenças femistas das Pussy Riot. "Uma mulher devia poder subir ao altar porque não é uma criatura pecadora", explica Tolokonnikova.

Enquanto banda, as Pussy Riot foram criadas por acidente. O grupo queria dar uma palestra acerca de Punk Feminista, mas na altura não existia nenhuma banda assim na Rússia. O grupo reuniu-se numa casa-de-banho e gravou uma música para provar a existência da banda e as pessoas acreditaram, começando assim o trajeto das ativistas.

O Julgamento


Hooliganismo motivado por ódio religioso, dois anos de cadeia - menos do que a comunidade Cristã Ortodoxa queria, bem mais do que as raparigas de balaclavas esperavam pelo concerto.

Durante o julgamento, um dos advogados do grupo, Mark Feygin, argumentou dizendo que "não existe uma lei contra a blasfémia e não foram cometidos crimes, isto não passa de um pequeno delito". A defesa baseou-se nos valores mais conservadores da Rússia e levantou a importância de manter o respeito pelos seus locais sagrados, caraterizando as ações em causa como uma forma de "profanação".

Nadezhda Tolokonnikova

Popularmente conhecida por "Nadya Tolok", tinha 24 anos quando foi presa. A acusação tentou difamá-la ao mencionar o seu envolvimento com a coletiva artística Voina (significa Guerra, em russo), conhecida pelas suas performances provocadoras. Num dos seus vídeos, Nadya aparece a ter relações sexuais enquanto estava grávida de oito meses, no Museu de Biologia de Timiryazev, em Moscovo.

Nadya ri-se várias vezes durante o julgamento, mas a voz não lhe treme quando se defende, terminando o discurso com uma música das Pussy Riot:

"Open all the doors
Take off your uniforms
Come and taste freedom with us"
Pussy Riot

Maria Alyokhina

Tinha 23 anos quando foi presa, os amigos chamam-lhe "Masha". A sua mãe explica que a sua vida mudou quando visitou a floresta Utrizh, que na altura estava a ser destruída.

Masha juntou-se a um protesto para proteger a floresta e, assim, começou a sua vida enquanto ativista

Yekaterina Samutsevich

Esteve no grupo Voina, com Nadya e participou numa performance chamada "Kiss The Garbage". Esta consistia em que algumas mulheres do grupo tentassem beijar polícias (também mulheres), contra a sua vontade.

Samutsevich conseguiu ser libertada mais cedo que Nadya e Masha, quando a sua advogada afirmou que esta foi impedida de participar no protesto, por um guarda da catedral.

A Revolta


O julgamento foi considerado ilícito, internacionalmente e levantou muita oposição por parte do público. "Free Pussy Riot" ouviu-se por todo o mundo em protestos que encheram as ruas de balaclavas e vestidos coloridos.

Muitos músicos apoiaram a libertação das ativistas, como Yoko Ono e os Red Hot Chilli Peppers. No entanto, quem mais se destacou foi Madonna, que a meio de um concerto em Moscovo pediu a libertação de Nadya, Masha e Katya e revelou as suas costas pintadas onde se podia ler "Pussy Riot".

​Os agradecimentos das ativistas ao apoio mostrado foi feito da melhor maneira que elas conhecem: com uma nova canção. "Putin Lights Fires" foi criada com um vídeo em que as Pussy Riot aparecem a queimar um retrato do presidente.

E agora?


Nadya Tolokonnikova tornou-se a ativista das Pussy Riot que mais aparece nos media. Durante a prisão chegou a fazer uma greve de fome para protestar contra as condições a que estava sujeita. As prisioneiras eram obrigadas a trabalhar 17 horas por dia e Nadya descreveu a violência do ambiente numa carta aberta às autoridades. Em entrevista ao The Guardian Tolokonnikova disse que tem pesadelos com a prisão, duas ou três vezes por semana.

Apesar de se terem afastado do estilo musical Punk, a arte e o ativismo continuam presentes nas músicas das Pussy Riot. Normalmente a presença e voz nos vídeos é a de Nadya, que deixou a crítica expandir-se para fora da Rússia.

"Let other people in
Listen to your women
Stop killing black children
Make America great again"

Trabalho realizado no âmbito da disciplina Jornalismo Multimédia

Fontes de informação: The Guardian; Pussy Riot: A Punk Prayer; Comradely Letters; New York Times; Der Spiegel; VICE

Fotografias/Vídeos: Der Spiegel; Iceposter; LATimes; New York Times; Pussy Riot: A Punk Prayer; The Guardian; The Times